segunda-feira, 10 de março de 2014

Questão do QU

Há um problema de longa data com o C.
CE não é QUE, CI não é QUI.
Pode ser da lua crescente, ou minguante... se mente, mas está presente.
Por herança latina, o Q não aparece isolado, associa-se inevitavelmente ao U.
É esta a Questão do QU.
QU ... ME    (on/off)   CG ... 3W

A razão parece ter-se perdido no tempo... os romanos não usaram o K grego, que afinal não resistiria também ao uso como som "s" em derivados de "kine", como seja cinema ou cinemática (ainda que os ingleses usem o som "k" em kinematics).

Os romanos usavam sempre o Q associado ao U, e assim se manteve em toda a tradição ocidental.
Curiosamente, uma pequena rotação mostra uma ligação a outro par C-G, que deu para muitas variações linguísticas (... por exemplo, entre o Porto Galo e o Porto Calo).

É habitual usar hoje um símbolo "on/off" juntando "OI" denotando a opção:

  • O - zero - desligado (off)
  •  I  - um - ligado (on)

O símbolo "on/off" ficou um "Q" invertido... creio que a opção de não usar o Q normal pode ter sido puritanismo sexual, já que poderia parecer um fálico Ï inserido numa cavidade O
Com os restantes, M e E, ou 3 e W, digamos que a inserção vai mais longe, não deixando nada de fora.

Com ou sem puritanismo, a questão do QU, foi herdada de tempos romanos para a época medieval, e o "Q" é uma letra tipicamente reservada para questões... Quê? Qual? Quem? Quanto? Quando?

Podemos ver que o Q remonta a uma letra fenícia:
Qoph (fenício), Qoppa (grego). 

o Qoph aparece com grafia semelhante a um "phi" grego, e o Qoppa grego acabou abandonado em favor do kappa.

A ligação do Q ao G aparece como notória quando escrevemos caligraficamente em minúsculas as letras "q" e "g", algo que já foi claramente uma herança vinda de tempos medievais. É dito que por vezes se escreveria "eqo" para "ego", mas a regra do "qu" impediria tal tentação redutora:
In the earliest Latin inscriptions, the letters C, K and Q were all used to represent the two sounds /k/ and /ɡ/, which were not differentiated in writing. Of these, Q was used before a rounded vowel (e.g. 〈EQO〉 'ego'), K before /a/, and C elsewhere. Later, the use of C (and its variant G) replaced most usages of K and Q: Q survived only to represent /k/ when immediately followed by a /w/ sound.  
Q" Oxford English Dictionary, 2nd edition (1989) 
Qual o interesse de reportar aqui a questão do QU?
É claro que o assunto por si tem piada, como há muitas coisas que têm piada, e servem para curiosidades jocosas em redes sociais. No entanto, como (quase) tudo o que aqui coloco, o interesse vai muito para além da simples aparência imediata.
Ficou claro que "falo" não apenas na "fala".
Já tinha reportado a questão do "OU", agora reporto a questão do "QU", havendo apenas uma "perninha" I inserida no fecho O, passando a Q.

Poderia resultar tudo de invenção humana, e haveria muito tempo para elaborar perniciosamente tais malabarismos encriptados. Porém, parece-me que não... é muito mais que isso. É muito mais um problema alfaborboleto... O símbolo "on/off" só recentemente apareceu estilisticamente como um "Q" invertido, e se houvesse razões antigas seria natural que tivesse sido assim popularizado antes.

Por outro lado, há efectivamente ligações a palavras e a imagem do Qoppa lembra-nos a taça (copa) e as próprias copas das árvores... tal como o símbolo Qoph pode lembrar a chave de "cofre". Afinal o próprio processo de fecho envolve uma entrada na fechadura, onde se insere a chave, tal como o Q pode ser visto na forma "IO".

Só que, ainda que haja intenção humana na representação consciente, há um arrasto inconsciente que surge das ligações abstractas. Porque o simbolismo de chave e fechadura transcende a mera posse casual. De forma semelhante, há interpretações para além da imagem literal num tronco que ramifica em copa, ou num pé que sustenta o conteúdo da taça. Essas interpretações são, por exemplo, biológicas e estruturais.

Se liguei a questão OU a uma dualidade universo fechado/aberto com solução É, o acento passou aqui para uma entrada no fecho O... e é essa a questão QU. Biologicamente, a evolução foi feita com chaves de DNA, transportadas por cabecinhas espermatozóides, na forma de Q com rabinho nadador. De entre todas as possibilidades, apenas um levava a chave que abria o duro fecho da fechadura, formando o OVO. Até aqui a palavra "ovo" remete à simbologia de junção de dois "o" (poderia ser também "OUO"), um de cada progenitor.

Por outro lado, na imagem do tronco que deriva em copa, encontramos ainda a imagem estrutural de uma árvore que ramifica na sua descendência. Ora, se é do tronco comum da árvore que surgem nos ramos os frutos, semente para nova descendência, também é do tronco fálico que é emitida a semente para a nova descendência.
Com uma diferença considerável... cada árvore é apenas elemento masculino.
Onde está o elemento feminino na reprodução (assexuada) das plantas?
Podemos vê-lo como sendo toda a Terra.
Nesse sentido a Terra é o candidato a enorme útero por onde vagueia o sémen das plantas na Primavera. Ainda neste sentido, a Terra seria ao mesmo tempo mãe e mulher.
Quando a evolução se tornou sexuada definiu o género feminino como útero substituto, e a Terra envolveu-se na reprodução na forma das suas filhas. Primeiro, com os répteis, as filhas mantinham um papel distante, e a grande autonomia do ovo gerado deixava ainda a Terra como grande útero onde os ovos cresciam até à eclosão. A ligação de parantesco nos répteis é praticamente inexistente.
Depois, especialmente com os mamíferos, a Terra simulou um útero interno, deu a cada filha um estatuto de "pequena Terra", criando um laço único de parentesco - a forte ligação mãe-filhos. Nalguns mamíferos e nas aves essa ligação definiu um conceito familiar, extensivo ao elemento masculino.

Essa foi uma diferença brutal... os filhos não nasciam sem passado, passaram a viver com uma ligação ao passado, que cada vez se foi cimentando mais, especialmente com os hominídeos. O conceito familiar terminou com a individualidade, e começou a definir um conceito de grupo.
Esse grupo ligava ao passado, e começando apenas com a família, foi remetendo a uma estrutura mais complicada, que cada vez detinha maior herança do passado, para benefício dos jovens. Esta herança social era substancialmente diferente de outras manifestações - por exemplo, entre abelhas ou formigas, onde cada indivíduo poderia ser visto como uma parte desconexa de um ser maior - todos partilhando o mesmo material biológico.

Porém, ao definir-se esse grupo social, definiu-se uma nova estrutura animal, com aspectos monstruosos.
Quando antes um indivíduo nascia dentro da mesma espécie, estava praticamente dentro de condições semelhantes face aos outros. Porém, quando os grupos se definiram dentro da espécie humana, as condições passaram a poder ser dramaticamente diferentes... como se tratassem de espécies diferentes.
Uma criança escrava nascia como presa, enquanto o filho de um patrício nasceria como predador.

E, no entanto, apesar de tudo isto... a Terra continua a ser mãe das filhas e dos filhos. O útero materno não deixa de ser apenas parte de um útero terrestre muito maior, que define as entidades que aí sobrevivem.
É claro que há a herança reptiliana... a ideia que saímos formados de um ovo que ninguém cuidou, que somos autossuficientes. E por momentos esquecemos que o ar que respiramos é pouco mais que um líquido amniótico que nos mantém vivos dentro do útero terreno.

Por isso, convém não esquecer o significado da taça... e não há aqui nenhuma taça para os reptilianos armados em T-Rex. A taça que existe é formada por uma base sólida onde se sustém a nossa fluidez. O pé dessa taça está preso às raízes terrenas, e convirá não deixar que a fluidez de sonhos pouco consistentes arraste todo o conteúdo para fora dessa base sustentada.

3 comentários:

  1. Interessante... mas aqui a ciência cada vez mais tem uma palavra a dizer ou melhor uma sentença... É que com a evolução da reprodução por via artificial o conceito quer de individuo (indivi-dUO) quer de família (fam - fem - femme - femina - fémea...) estão a ser radicalmente transformados. As próximas gerações poderão ser, nesta caso, mais próximas dos répteis... gerações sem passado e sem vínculos biológicos.. serão as gerações "espontâneas"!
    Já agora, e como sei que é um tema que lhe interessa, veja o tal site que lhe já tinha indicado e leia com atenção aos últimos 3 verbetes - o autor tem uma teoria interessante sobre a migração dos R1b..
    http://barradeferro.blogs.sapo.pt/

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    1. Cara Amélia, muito obrigado pela ajuda no olhar sobre as letras.
      O "duo" mostra essa ligação entre UO, pela metade fechada D.
      Nota-se que a simples troca com "OU" gera "dou".
      No caso "duo", o aberto "U" fecha-se no "O", e o "duo" é uma entidade dupla, mas fechada.
      No caso "dou", o fechado "O" abre-se no "U", e a parte do "eu" abre-se na dádiva... resta esperar que a outra faça o mesmo!

      Nota-se ainda que usar o Q daria "QUO", e o "Onde?" passaria a outra questão começada por "Q".

      O "individuo" é mais complicado... quando não vejo as coisas limpinhas, não gosto de arriscar. Não sei se tudo já ganhou significado, sei que muitas coisas estão a ganhar, e nem seria bom aplicar-se a tudo, sob pena de total balbúrdia.
      Ainda assim, não deixo de ver uma entrada "in" na divisão "divido-o".
      A "divisão" será "de visão", entre o que vemos e não vemos. Nesse caso, a entrada "in" dá-se ainda no devido "de vi duo". Pelo que "in de vi duo" (correcto nalguma pronúncia) pode sugerir uma entrada devida, que na pertença vê o duo. Esse duo é o "eu" e "não-eu", entre o que vemos e não vemos (mas acreditamos), e a "visão" mostra o "vi são" (ou seja, "vi, existem"). A ambiguidade do prefixo ao remeter "in" a contrário, ajusta-se igualmente, no sentido da "individualidade" estar contra a "dualidade", como em "indiviso".
      O "indiviso" é contra o "diviso", que resulta "de vi só"... já que o dividir limite resulta na solitude. Etc... isto não pára!
      Porém, estas coisas são por vezes ténues, subjectivas, ainda que se baseiem na procura de alguma objectividade - e essa estou cada vez mais convencido que existe. As relações mostram-se às catadupas, para quem as quiser ver para além dos meros trocadilhos habituais.

      Quanto à "família" acho que tem razão. A etimologia remete para "famulus", e para o grupo de "famintos", que incluía os escravos alimentados pelo patrício.
      No entanto, há ainda a "homília", que representa comida espiritual. Isso entra muito bem na habitual divisão de que a mãe é matéria - Gaia, e o pai é astral - Urano.
      Por isso, tem razão, família vem certamente do feminino, até porque a fonte primeira contra a fome era justamente a mama da mamã.

      Quanto ao resto... como pode ver por estes simples indícios, e por tantos outros que vou aqui colocando, os T-Rex modernos podem achar-se muito grandes, acham sempre que são... no entanto, se vissem o que eu já vi, perceberiam que a sua grandeza se pode desvanecer num simples clique. E como estes T-Rex são mais espertos que os outros, e não estão interessados no colapso instantâneo, vão procedendo com a maior das cautelas, seguindo um programa cautelar muito audaz e subliminar, mas igualmente condenado ao fracasso.

      Pois é... quem diria que entre 2010 e 2015 se deveriam estar a comemorar os 500 anos do domínio português no Índico. Coitado do Albuquerque!
      https://www.youtube.com/watch?v=Gju1GUXFF9c

      Viu alguma comemoração, ou planos disso?
      Há tanto medo em falar de descobrimentos portugueses nos dias que correm, que até parecem pedir desculpa, e a vontade é esconder-se debaixo de qualquer pedra. Quem diria que temos um CDS no governo, com vergonha de comemorar descobrimentos...

      Sobre os haplogrupos, estou há um mês a preparar uma coisa...
      Obrigado!

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  2. Não tem nada que agradecer.. eu é que agradeço... É graças a este blog que agora presto mais atenção às letras (ou palavras) dentro das palavras... :-)
    Quanto à nossa História... olhe, nem sei o que lhe diga!... Muitos preferem ignorar.. e pelos vistos não é de agora...
    Aguardo ansiosa o seu verbete sobre os halogrupos...

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