domingo, 24 de agosto de 2014

Ju

Como vou tentando deixar claro, há em cada em sílaba, em cada som primitivo, um significado que acabou por ficar entranhado nas palavras. Assim, de forma algo estranha, as palavras acabam por falar mais, acrescentando a sua decomposição nos sons e até nas grafias. Se o processo pode ser sistematizado por alguma etimologia, uma menos escondida que outra, há uma parte quase caótica que parece individual e circunstancial.

Ju é uma sílaba que nos aparece despercebida de significado... e serve de exemplo significativo.
Esta sílaba está associada a diversas palavras, sendo que no português mantemos "jus" com um significado latino de equilíbrio, de justiça, num "fazer jus", num justo, que se liga à parte do direito jurídico... que se liga a um jugo por um ri, que interpreta a lei judicial. 
Poderíamos continuar por esta linha óbvia, ligada à justiça mas depois aparecem outras palavras onde a ligação parece perder-se. Ora, numa delas é onde deve ser encontrada a raiz.
piter... parece-me poder ser visto como Ju-pater, ou seja, invocando a divindade Ju como Pai.
De forma semelhante, teremos Ju-deus como aqueles que atribuíam à entidade Ju o estatuto de deus.

Acontece que um nome alternativo para Júpiter era Jove, e isto surgiu no sentido de Jovem, como pode ser entendido que Júpiter era o filho jovem que depôs Saturno. Assim, ao escrever Ju-pater é passar Ju à figura de Pai, substituindo nesse papel Saturno/Cronos. Nesta trindade ligeira, o filho passaria a pai, colocando-se no lugar de Saturno/Cronos ao dominar os restantes irmãos no Olimpo. Só que este círculo, este O, não ficou propriamente limpo, sem acento, ou melhor, sem assento, das restantes divindades remetidas para a escuridão infernal. Essa junta foi uma junção, em que o unto serviu unção.
Associado a jovem temos o juvenil, ou juventude, mostrando mais uma vez como o prefixo ju pode resultar directamente dessa divindade primitiva. Por outro lado, a juba é bilo do rei dos animais, aqui no papel de juiz. Contra o leão só se opõe o burro, se achar que mente é jumento num kangaroo court.
Assinala-se, novamente que é-breus é diferente de ju-deus, porque breu é escuridão, ocultação, e uma atitude de bastidores não prescinde actores no palco.

Tudo isto, a propósito de quê?
De Lu... Lucy.

Lucy (2014, de Luc Besson) trailer

Até este momento só vi o trailer... e não sei se há muito mais de interessante, mas acho que apesar de um pouco rudimentar, há uma perspectiva que já se assemelha mais a poderes ilimitados.
As bases justificativas continuam a andar pelas alucinações da compreensão física do cérebro, a que se juntam aqui alucinogénios... mas o interessante é ver finalmente em tela uma melhor ilustração do que se entende por um superpoder divinal.

No entanto, o mais interessante, e que duvido que seja abordado, é que o superpoder de Lucy não é em essência de diferente do poder de qualquer um. Todos os homens aptos têm o poder de interagir com a realidade que lhes é apresentada. Essa interacção é muito limitada, e a tecnologia foi uma forma de alargar as potencialidades de interacção. Um homem pode esmagar um insecto, um super-homem poderia esmagar um comboio... é só uma questão de escala, não muda muito a essência.
Por isso, quando diminuem as restrições do super-herói, diminui o interesse do filme... se o fulano pode fazer tudo sem restrições e sem limitações, qual é o interesse da história? - Esse é um ponto fulcral, a diminuição do desafio retira interesse ao enredo... retirará interesse ao próprio objectivo de vida do fulano.

Este filme enquadra-se num outro tipo de mitologia reinante, que é a possibilidade do super-homem.
Assim, o nome Lucy não será indiferente ao nome Lucy colocado ao austrolopiteco que foi tido como o elo mais antigo à espécie humana. Esse baptismo do austrolopiteco foi associado à canção Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles.
Lucy era assim a primeira de uma nova espécie... no nome e nas capacidades retoma-se o ideal da paranóia eugénica do super-homem, ideal que já serviu e serve ideais de má lembrança.

Quanto ao prefixo Lu - isso seria uma história completamente diferente... mas se pensamos evoluir nos sonhos - pintando os mesmos com outras cores - parece que à imaginação falta luz do Luar, falta um lume de lucidez neste lugar. Porque o L de Ele lê-se El.

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