quinta-feira, 12 de abril de 2012

Trânsito de Vénus

Tem sido habitualmente especulado sobre alinhamentos em 2012, em particular em 21 de Dezembro de 2012... porém convém notar que nada de notável está previsto para essa data.
Acontecem alguns alinhamentos interessantes em 2012, sim, mas antes de Dezembro...
A mais notável efeméride será o trânsito de Vénus (pelo Sol), que ocorrerá em 6/6/12... já que só se voltará a repetir no próximo século, em 2117 e 2125.

Independentemente de se acreditar ou não que os alinhamentos planetários têm alguma influência física, eles tiveram e têm uma influência humana, no sentido em que houve e há quem altere o seu comportamento devido a eles. A astronomia teve sempre uma componente astrológica desde o momento em que alguém associou uma efeméride planetária a um acontecimento humano. 

Na pseudo-mitologia para o ano 2012 está um propalado início do calendário Maia. 
Só se começou a falar disso depois de passar a previsão apocalíptica de 2000... ainda que uma eventual Odisseia espacial de 2001, pode ter ocorrido como pseudo-Ilíada de 2001 sobre as Torraltas. 
As Torres Altas de Tróia, as duas Torraltas de Tróia, ou que duas torres altas?
lol ... havendo desde 2001 quem veja neste símbolo lots-of-laughs.

Calendário Chinês
Um outro calendário antigo é o chinês, cuja origem tem sido fonte de especulação e dúvida. Supõe-se que teria tido início num antigo alinhamento notável dos 5 planetas visíveis, juntamente com Sol e Lua. 
Em 1993 dois astrónomos do JPL-NASA, K. Pang e J. Bangert sugeriram que isso pode ter acontecido em 1953 a.C., o que dá um 3965 anos passados, ainda assim diferente do valor actual 4709 anos lunares, se atendermos a que isso corresponderia a ~ 4564 anos solares, ou seja uma diferença superior a 500 anos para essa hipótese. No entanto, K. Pang encontrou uma passagem num texto antigo de Hong Fan Zhuan (Séc. I a. C), que dizia:  
"The Ancient Zhuanxu calendar (invented in about 2000 B.C.) began at dawn, in the beginning of spring, when the sun, new moon and five planets gathered in the constellation Yingshi (Pegasus.)"  
Por isso, há alguma sustentação nessa hipótese de início do calendário por alinhamento na constelação de Pegasus ou Peixes, numa madrugada equinocial por volta de 2000 a.C. De qualquer forma, os cálculos usados hoje são sempre especulativos, até pela falta de informação sobre a inclinação do eixo da Terra, ou pela simples admissão de que nada teria mudado em 4000 anos.

É importante notar ainda que os chineses chamariam ao velho calendário lunar Yin, enquanto o calendário solar seria o Yang, na célebre dualidade oriental Yin/Yang (aqui Lua/Sol) expressa no símbolo


Trânsito de Vénus
Os trânsitos de Vénus pelo Sol foram importantes para definir as distâncias planetárias, mas também tiveram o seu papel de astrologia política... para isso basta notar que em 1769 é justamente Cook que irá ao Taiti fazer as medições astronómicas.
Independentemente do significado astronómico, há aqui um significado político, sendo Cook a regressar ao Pacífico "nunca antes navegado" para marcar o evento à escala planetária.

A última vez que o trânsito ocorreu foi em 8/6/2004... antes disto tinha sido em 1769 e no Séc. XIX (9/12/1874 e 6/12/1882), e depois de 2012 só voltará a ocorrer no Séc. XXII (11/12/2117 e 8/12/2125). Não ocorreu nenhuma vez durante o Séc. XX. [Consultar a lista com os trânsitos de Vénus previstos pela NASA]

Em 2012 de novo Vénus irá aparecer como um pequeno ponto negro à frente do Sol, visível ao nascer do Sol nesse dia, na zona do Pacífico. Esta passagem demora 6 horas, sendo visível onde ocorrer o pôr/nascer do Sol, entre as 22h da noite e 4h da manhã - no caso de Portugal não será visível!
Agora, em Abril, ainda é possível ver Vénus bem alto no céu, ao pôr do Sol, mas rapidamente irá descer e aproximar-se do Sol poente, nesse dia 6/6/12 passará de estrela da tarde (Hesper) a estrela da manhã (Lucifer, Phosphorus), como acontece periodicamente, com a única diferença que desta vez passa mesmo em frente do Sol nesse percurso - o chamado trânsito.

Segunda Lua - Cruithne
É dito que os "antigos" teriam visto Vénus como uma segunda Lua, pela intensidade do seu brilho, que resulta de ser o corpo celeste de grandes dimensões que mais se aproxima da Terra, excluindo a Lua.
Já Julio Verne (no livro "Da Terra à Lua") conjecturava sobre a existência de uma "pequena segunda Lua":

"Is it possible!" exclaimed Michel Ardan; "the Earth then has two moons like Neptune?"
"Yes, my friends, two moons, though it passes generally for having only one; but this second moon is so small, and its speed so great, that the inhabitants of the Earth cannot see it."

Recentemente foram descobertos pequenos corpos que podem ser vistos como "segundas Luas" da Terra, sendo muito pequenos. Um deles é o Asteróide 3753-Cruithne (de 5 km de diâmetro)

que apesar de não orbitar à volta da Terra, acaba por fazê-lo de forma aparente. Por outro lado, em 2010 descobriu-se um asteróide ainda mais pequeno (300 metros) 2010-TK7 que partilha a mesma órbita terrestre, numa posição que lhe permite não ser atraído nem pela Terra nem pelo Sol. É chamado asteróide-troiano, já que se encontra dissimuladamente na mesma zona orbital, num ponto lagrangiano. Estas zonas orbitais - pontos lagrangianos - podem ser usadas como entradas em "auto-estradas planetárias".

Julio Verne pensava noutro tipo de segunda Lua, mas estes objectos servem para analogia da sua "antecipação". Convém notar que não seria completamente impossível haver uma segunda Lua escondida à visão da Terra... bastaria que estivesse ocultada atrás da primeira, seguindo a mesma órbita a distância quase fixa - e para efeitos de ocultação visual, até poderia ser uma segunda Terra! Mecanicamente não seria impossível ter um conjunto de três corpos sincronizados... até no sentido em que a Lua seria o seu centro de massa! Essa hipótese só seria afastada pelas medições exactas da distância da Terra ao Sol, mas daria certamente para interessantes obras de ficção científica... não exactamente no sentido de universos paralelos, como está actualmente na moda (ver p. ex. o filme Another Earth), mas mais no sentido de universos colonizados...

Venus Express e Hubble
Já aqui tinha feito referência à inexplicável ausência de imagens espaciais de Vénus... afinal o planeta mais próximo é aquele de que temos menos imagens (pelo menos dos 5 visíveis a olho nú)!
A Venus Express, sonda da ESA (Agência Espacial Europeia), acabou por revelar algumas imagens melhores, mas ainda assim pouco diferentes das obtidas pelo telescópio Hubble:
 

Vénus: Imagem da ESA (esq.) e Imagem do Hubble (dir.)
... as cores são "falsas" pois são na zona ultravioleta...
... parece ser complicado tirar fotos normais....

São ainda curiosas as imagens de Marte vindas do Hubble, por exemplo:

diz-se que a imagem pode ir do infra-vermelho ao ultra-violeta... ou seja pode ser, ou é, uma imagem obtida com cores reais. Sobre o significado dessas cores azuladas e das nuvens, é interessante ler esta descrição. e ver a imagem da Viking. Na linha menos colorida surgiram outras imagens, com mais definição, mas talvez mais confusão... que vão desviando o olhar dos nossos telescópios.


Outras efemérides em 2012
A configuração aqui mencionada de conjunção entre Vénus, Júpiter e a Lua, irá ser semelhante, mas pela manhã, neste Verão. Vénus irá aproximar-se de novo de Júpiter, que se antecipará... de estrela à tarde, passará a estrela da manhã na transição do dia 13 de Maio de 2012. Ambas serão estrelas da manhã depois do dia 6 de Junho, e em 18 de Junho teremos pela manhã uma lua minguante, seguida de Vénus e Júpiter, um pouco mais acima do horizonte. De forma igualmente interessante será o aspecto da manhã, um mês depois, por volta de 15 de Julho, ou mesmo depois, por volta de 13 de Agosto.

(Não serão visíveis em Portugal: o eclipse anular do Sol a 20 de Maio, o eclipse total do Sol a 13 de Novembro, e o eclipse parcial da Lua a 4 de Junho).

Mais notável será a conjunção (de 1 grau apenas) entre Saturno e Vénus, que ocorre a 27 Novembro, ao mesmo tempo que um eclipse lunar de penumbra será visível no dia seguinte (mesmo na Europa).
A conjunção próxima de dois planetas já foi usada como explicação para a Estrela de Belém, associando a uma conjunção de Júpiter e Saturno no ano 7 a.C. que esteve a 1 grau de distância.
Nesse aspecto, como Vénus é mais brilhante que Jupiter, a prevista para 27 de Novembro de 2012 será mais notável, até porque a Lua também participa ficando sob a penumbra terrestre no dia seguinte.

Estes são os últimos registos de efemérides previstas para 2012 e nenhuma tem o aspecto de "conjunção extraordinária". Curiosamente a data de 21 de Dezembro, mas de 2020... essa sim aparece com uma conjunção notável de Jupiter e Saturno, que ficarão quase como estrela-dupla, separados por apenas um décimo de grau.

Tudo o resto sobre 2012, mais do que astrologia, faz muito parte do folclore financeiro, que vende produtos, vende sonhos, oculta o que importa, e divulga as necessárias distracções para desviar atenções.
Apocalipse significará "revelação"... e isso sim contribuiria para uma mudança de mentalidades - a única revolução que interessaria... recolocar o homem no seu devido lugar, no seu papel único de inteligência, em relação de honestidade e verdade com os seus semelhantes.
Porém, ao contrário, o que vamos vendo é uma reposição do homem nos seus instintos mais primários de índole animal, na linha da selecção natural... sobreviver ou usar a inteligência para se tornar num animal superior (o melhor da vizinhança) ou numa espécie superior (pertence a uma elite)!
Esse é um caminho sem destino e sem fim... conforme já referi, para além da inteligência, há apenas inteligência. Só a farsa alimenta uma ilusão evolutiva, com níveis, classes ou castas... e mesmo os mais crentes parecem esquecer o detalhe da criação - fomos feitos à imagem de Deus - e certamente isso não se referia ao aspecto físico!... Tudo o resto é uma questão de tempo, e equilíbrio... só teme a morte quem não pensou nos detalhes pouco simpáticos da eternidade. Por isso, Saturno pode ter cedido de bom grado o papel divinal ao filho Júpiter, e ter decidido viver com os humanos no Lácio... mas é ele enquanto Cronos que define a linha temporal - um simples corte de Úrano.

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