domingo, 11 de março de 2018

Desafinações visuais (2)

Os tempos seguintes ao 25 de Abril de 74 foram curiosos, porque nos apresentaram uma versão diferente das coisas. Quem nasceu com a exploração espacial, não deixou de ser bastante influenciado pelo assunto, e pior, a partir de 1973, ficou frustrado, porque terminaram as missões Apollo.

Astronautas eram americanos, porque os russos eram Cosmonautas.
Só percebi a subtil diferença no título, quando fui perder o meu tempo numa publicitada exposição sobre a "história da cosmonáutica". 
Nessa história em filme, os astronautas não existiam... só havia cosmonautas (russos), como Yuri Gagarine e Valentina Tereshkova. Não me lembro se era falado sobre a ida russa à Lua, que foi feita em missão não tripulada, mas certo foi que de Neil Armstrong ou Buzz Aldrin, não se ouviu falar, nem das missões Apollo. 
Não percebi qual foi a ideia (do PCP, certamente o patrocinador do evento, por via da URSS), mas ao ver a manipulação descarada, não esqueci o golpe. Poderiam até ter dito que as explorações americanas eram uma treta, e que o homem nunca tinha ido à Lua, etc... Mas não! Simplesmente ignoravam a exploração espacial americana, que sabiam ser a única publicitada antes do 25 de Abril.

O aparecimento dos Space Shuttle em 1981, fez-me seguir em directo novas transmissões, ouvindo os ignotos comentários de Eurico da Fonseca... um dos pseudo-especialistas, tal como depois aconteceu com Carvalho Rodrigues. A televisão sempre teve o dom de escolher os piores, para os maquilhar como melhores. Cada frase que diziam, era "cada tiro, cada melro", dificilmente acertavam uma que fosse. Não havia dúvida que eram os melhores agentes para uma política de desinformação.

Bom, mas o Space Shuttle foi uma boa jogada publicitária da NASA... durante os anos 80 ainda se pensou que a razão da suspensão do programa Apollo tinha sido a mudança de filosofia na aeronáutica, pois fazia algum sentido a lógica do "vai-e-vem". Claro que nos anos 90 já não era convincente... e a partir daí foi sempre a piorar, até restar hoje como uma questão de fé. 
Mas, isso é outra história, de que falei várias vezes, e da última vez aqui:

Vamos então concretamente ao assunto deste post.
Nesse texto estava uma referência a "uma série em que as naves espaciais levantavam do mar"...
Não fazia ideia de quando tinha passado na RTP1, mas fazendo uma pesquisa um pouco mais atenta pelo Google, cheguei finalmente ao "Raumpatrouille Orion":

Raumpatrouille Orion (1966) - série de ficção científica alemã.

Depois é possível verificar neste site, que o título português foi "As fantásticas aventuras da Nave Órion", e passou na RTP1 em 1977.
Tudo o que me lembrava, passados mais de 40 anos (mas seria indiferente há 20 anos atrás), basicamente reduzia-se ao remoinho do mar, de onde a nave espacial saía:

A série era filmada ainda a preto e branco, mas isso não serve para disfarçar os péssimos efeitos especiais que tinham sido usados então.
Que ideia tinham então os adolescentes desses maus efeitos especiais?
- Nenhuma...

Era basicamente esse ponto que gostava de salientar!
Aquilo que nos parecia "bem feito" à época, passado algum tempo depois, chega a parecer ridículo!

Ficámos mais espertos?... ou éramos menos sensíveis?

Podemos dizer que era um problema de idade, mas a questão é que estas séries eram também apreciadas por "malta mais velha", que igualmente não detectava nenhuma anormalidade.
Mais, podemos verificar o mesmo com outros filmes que foram produzidos posteriormente, onde os efeitos especiais até ganharam prémios na altura, e que hoje vemos com deficiências notórias (por exemplo, o Total Recall de 1990, que ganhou o óscar de melhores efeitos visuais).

Aquilo que me parece que se passa, é simples... ganhámos muito maior sensibilidade!
Ficámos muito mais "esquisitos", ao passar de televisões com má definição, para televisores HD, e agora UHD 4K, etc...
Qualquer coisa que antes era uma "perturbaçãozinha", passou a ser uma "enorme perturbação", porque a política comercial agressiva tornou-nos mais exigentes, e queremos perfeição no detalhe.
Por isso, é um exercício curioso ver esses filmes de ficção científica antigos, com os olhos actuais.
Sm, ficámos mais sensíveis e exigentes... e talvez mais espertos, por isso.

Não será à toa que "se perderam" os originais dos filmes das "alegadas idas à Lua"... e que foram feitas novas versões com "melhor qualidade", ou seja, para não serem notados eventuais problemas!
De qualquer forma, nota-se que em "2001, Odisseia no Espaço", os problemas de tecnologia do filme não são propriamente uma falha de qualidade na resolução, talvez porque Stanley Kubrick tivesse uma sensibilidade mais ajustada ao nosso tempo, do que ao tempo em que viveu.

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